O saber da experiencia e as praticas de campo

Notas sobre a experiência e o saber de experiência

Jorge Larrosa Bondía

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Um dos primeiros pontos interessantes que Larossa traz em seu texto é sobre a importância das palavras, da forma com que sendo "racionais" temos todos os nossos pensamentos organizado em palavras. Essa construção linguística criada em nosso cérebro nos remove da situação da experiencia, pois vira algo natural, basicamente parte de quem somos, como agimos e pensamos, tudo está interligado como fomos introduzidos às palavras e aos discursos.

Como  definição temos que a experiencia é tudo aquilo que nos comove, que nos toca, que  nos acontece. Ou seja são coisas que percebemos nos alterar de alguma forma, de mexer conosco.

Em seu texto Larrosa debate o que vêm a ser a real experiência dos indivíduos e para mostrar o seu argumento ele discute ações que são consideradas como experiencias mas que não são de fato.

O primeiro ponto à ser discutido é que informação não é experiencia. No mundo é praticamente uma convenção que o importante é estar sempre informado, ser o portador das sabedorias do mundo. O que se está em discussão é que a todo tempo são repassadas milhares e milhares de informações, o ensino nas escolas usa dessa lógica. Conhecimento é tratado como o simples fato de se aprender e processar uma informação. Mas o simples fato de estar informado ou conhecer alguma técnica não faz ninguém experiente em nada, nem gera nenhuma vivencia direta com aquiles que recebem essas informações. Em outras palavras, não é porque alguém leu uma receita num livro que essa pessoa saiba de verdade como fabricar aquele alimento,e nem tão pouco sabe o gosto original e real daquilo que ali está escrito. Portanto não pode vivenciar a experiencia de cozinhar como quem escreveu a receita teve.

Outro ponto discutido tem relação com as falsas experiencias, com a crescente onda de informações os sujeitos se sentem motivados a dar opnião sobre tudo e todos baseados nos fatos que conhece. Nas escolas se vê muito disso também, pedir que leiam vários textos e baseados neles montem argumentos e realizem suas criticas. A ideia em si não é de todo mal, mas isso se vê refletido na vida, onde muitas pessoas afirmam pontos questões das quais se baseiam em muito pouco e menos ainda na experiência. 

Vemos muito disso, por exemplo, quando a bilheteria de um filme é um fracasso porque críticos de cinema falaram mal de um filme e as pessoas não se deram ao trabalho de ter a sua própria experiencia, apenas confiaram nas informações que receberam. As guerras politicas possuem muito disso também, tudo baseado numa rede de informações que em certos momentos não se sabe mais nem o que é verdade ou mentira.

"...passamos a vida toda opinando sobre qualquer coisa sobre que nos sentimos informados" Larrosa.

Outro argumento é de que a Experiencia está cada vez mais rara com base na falta de tempo. Como se já não bastasse ser informado e opinar sobre tudo os sujeitos são cada mais estimulados a essas praticas, estando sempre é busca de novidades, de novas noticias. É mais fácil passar horas rolando a barra de noticias do Facebook e curtindo vários conteúdos diferentes do que parar por alguns momentos e refletir sobre os impactos que aquele tipo de ação resultam na sua vida, de que forma engrandece ou prejudica o ser...

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De tantas novas informações e estímulos, aquilo se torna tão frenético que ao mesmo tempo não significam nada, as informações vêm e vão e logo são esquecidas. Se nada acontece não se tem experiência

No texto tem um trecho muito interessante que fala sobre esse não tempo para viver, sobre o não tempo e a a não experiência.
Segue abaixo o trecho :

"A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque,
 requer um gesto de interrupção,um gesto que é quase impossível nos tempos 
que correm: requer parar para pensar, parar para olhar,
parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais
devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir
mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender
a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade,
suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção
e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre
o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos
outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter
paciência e dar-se tempo e espaço."

Nos ambientes de trabalho onde muito se fala em currículos e profissional com experiencia, não se está medindo de verdade as experiencias de cada um e sim o quanto de conteúdo acumulado aquela pessoa já teve acesso e quanto já repetiu certas ações para faze-las sem exitar. 

Tudo bem que talvez a primeira vez que alguém tenha tentado fazer algo, como mexer no photoshop ou mexer em uma maquina diferente, possa ser considerado uma experiencia ( se aquilo marcou a pessoa de alguma forma), mas Larrosa afirma ainda que se o experimento é repetível a experiencia é irrepetível. Ou seja mesmo que uma primeira experiencia tenha sido marcante, a repetição daquela tarefa não resulta como uma geração de novas experiencias e sim a repetição do que é previsível. 

A experiencia é muito associado com o novo, com o desconhecido, porque de certa forma toda experiencia vai alterar os sujeitos de alguma forma, vai gerar novos pensamentos, novas formas de agir. Se não existe alteração e percepção da mudança, aquela experiencia não foi absorvida de fato.

Uma maneira inteligente de abordar como seria a experiencia é a forma como o Larrosa compara com a paixão. Conhecendo o sentimentos podemos dizer que  a paixão é um sentimento pessoal  e intransferível, somente quem já viveu conhece e não se pode dizer que a paixão de alguém seja igual a de outro, porque as experiencias foram diferentes.

Então se um mesmo grupo de pessoas que tenha tidos as mesmas oportunidades, estejam num mesmo local e tenham passado por uma mesma situação, mesmo assim ainda não podemos dizer que todos tiveram uma mesma experiência. Falarei mais sobre o assunto logo após ao discutir o texto sobre as aulas passeio.

Concluindo, as palavras tem poder, viver é muito mais do que estar biologicamente categorizado como vivo, conhecer é muito mais do que receber informações, mais do que conhecer técnicas e repetir-las roboticamente. Se a experiencia não foi percebida em algum momento da vida é porque de fato não houve experiência.


Aulas de campo e as práticas educomunicativas: a sala de aula encontra a realidade*

Andrea Pinheiro Paiva CavalcanteCátia Luzia Oliveira da Silva


A primeira grande parte desse artigo explica sobre em que se consiste o curso de Sistemas e Mídias digitais, curso que sou estudante e portanto aluna da disciplina de Educomunicação por parte do mesmo.


Apesar de alguns cursos na UFC já trabalharem e pesquisarem sobre Educomunicação, essa foi a primeira disciplina  na universidade que recebeu esse nome.
A disciplina surgiu baseado nas aulas passeio propostas por Freinet e nos conceitos de transdisciplinaridade, indo de encontro contra o ensino hierarquizado tão empregado nas instituições educacionais.

Com isso a disciplina busca discutir os diferentes métodos educacionais aplicados no país e os conceitos de educomunicação a partir das leituras realizadas em sala de aula e respeitando as experiencias de cada um com relação aos métodos educacionais que conheceram ao longo da vida.

As leituras contemplam diferentes pensadores, dentre o professor francês Freinet, ao pedagogo brasileiro Paulo Freire. Valorizando assim os diferentes pensamentos, suas origens e a cultura na qual estamos inseridos.

Como a educomunicação se baseia, além da troca de experiencias e conversas, na produção de conteudo, são realizadas aulas passeio em escolas ou instituições que usem das praticas educomunicativas, realizar essas viagens permite ver em pratica a teoria sendo utilizada como permite aos alunos realizar sua própria pratica.

Com isso são propostas a criação de oficinas que levem as pluralidades dos assuntos vistos na universidade e que se encaixem com as realidades de vida das pessoas desses locais que são visitados. O objetivo dessas oficinas é gerar reflexão de como podemos aplicar os métodos educacionais de forma mais coerente e entender a importância da comunicação em sala de aula, de que maneira isso afeta o aprendizado.
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Tornando ao texto anterior, nenhuma experiência seria verdade se não fosse aplicada na pratica, se não fosse vivida. As aulas no campus da universidade já eram totalmente aplicadas com base na educomunicação, mas dar a possibilidade aos alunos de viverem o ambiente de sala de aula como produtores é uma experiência enriquecedora, unica e pessoal.

Além das oficinas existe todo um outro contato com outras realidades, outras pessoas e paisagens. Tudo isso se torna um estimulante para tornar todo processo em uma experiência construtiva e real, que deixa marcas na formação como profissional.

Uma forma encontrada de se verificar isso também é o pedido de escrita de memoriais. Não somente escrever, mas produzir qualquer tipode material que reflita esse momento passado.  Ao o produzir o material o aluno é forçado à parar e refletir sobre os acontecimentos recentes e a partir daí tirar conclusões sobre o efeito produzido por todos esses processos.

Larrosa  já falava sobre esse tempo de parar e refletir, como já foi descrito anteriormente.

Produzidos os materiais e compartilhados com os colegas é inegável a percepção da experiencia e como ela pôde ser forjada dentro do ambiente escolar, a discussão em sala também gera novas percepções e com isso a construção de um evento marcante na vida dos indivíduos que participam da disciplina.

As aulas passeio se tornam espaços de formação e geração de experiências.

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