Viagem à trairi - Memorial


Foi uma grande alegria saber que teríamos uma viagem na disciplina de Educomunicação, não só pelo fator viagem é claro ( que já é bom por si só) mas por conhecermos novas pessoas e termos novas experiencias. Para mim foi uma maneira de me aproximar mais dos meus colegas, até porque muitos deles não sabia o nome nem tinha trocado muitas palavras.

Quanto a região eu já conhecia algumas áreas, com família morando próximo algumas partes me eram bem familiares, como as praias por exemplo. Confesso que não gosto muito da região, primeiro por não ser a maior fã de praia desse mundo (quem já me viu pessoalmente e viu a cor da minha pele dá pra perceber que eu ando me esquivando do sol) e segundo por me sentir meio isolada  já que não pega sinal de telefone na cidade e proximidade.

Um medo nessa viagem foi a questão da estrada. Saber os danos que as chuvas fizeram, gerou toda uma tensão se mudaríamos a hospedagem, se o dinheiro seria suficiente e tudo mais. Ainda bem que conseguimos chegar ao local com sucesso... Mas que o estrago na estrada foi grande não há duvidas. Fica a foto para registro.

Bem, eu queria ter dormido bem nesse dia, mas tivemos de sair cedinho pra viagem e no ônibus não consegui pregar o olho. Fiquei meio lesada todo o dia mas não me empatou de apreciar toda a vivencia que tive nesses dois dias de viagem.

Não tirei nenhuma foto do hotel, nem da praia, por motivos de me esqueci.

Assim que chegamos pegamos a chave dos nossos quartos, minhas companheiras que até então eu não conhecia bem e nem tinha tido familiaridade se mostraram bem agradáveis e gentis e isso foi ótimo.
Deixamos as malas e feito tudo isso fomos conhecer um projeto de cultivo de algas em Fleixeiras, muito próximo de onde estávamos hospedados por sinal.
Lá pude conhecer um pouco sobre uma realidade econômica da região, projetos sendo desenvolvidos e muitas outras coisas legais, como pode ser visto na foto abaixo que mostra um pescador da região mostrando uma corda na qual são cultivadas algas marinhas.
Eu não tinha menor ideia de que era possível se cultivar algas e vende-las sem ser de forma predatória,

As algas la cultivadas podem ser usadas na alimentação, nos cosméticos e em medicamentos. 
É muito bom conhecer outras formas de alimentação possíveis, formas saudáveis e sustentáveis que tem grande potencial de exploração ainda mas que poucos conhecem.

Ao fim dessa visita nos informaram que teríamos uma degustação, eu estava louca para saber que gosto tinha alga marítima, nos foi ofertado uma sobremesa, uma gelatina com mousse de maracujá. Fiquei impressionada em saber que foram feitas usando das algas ( quem vê cara não vê todas as possibilidades) o gosto era maravilhoso e podia ser comparado com outros produtos do gênero que já comemos anteriormente, mas enfim, continuei sem saber que gosto tinha algas HaHa :')

Depois de comermos seguimos em direção a praia, alguns se esbaldaram no mar, eu só voltei pro quarto de hotel e fui me preparar para o almoço. Outra ótima refeição e partimos para a escola.

Mais uma pista quebrada no caminho e chegamos lá, ufa. Fomos super bem recebidos pela equipe da escola, nos movemos rapidamente para organizar tudo em meio aos olhares curiosos dos alunos e por fim pudemos receber eles nas salas.

As oficinas do primeiro dia foram bem legais, tanto pelo conteúdo como pelos resultados. Os jovens se engajaram e tiveram isso como uma saída da sala de aula o que trouxe um clima de descontração e uma boa interação com todos.

A foto abaixo mostra o momento em que os alunos pregaram com lambe lambe ( mistura de cola e água) os cartazes de protesto sobre os problemas da cidade da Escola.


Os cartazes eram muito fortes e pontuais. Uma ação no outro dia me fez perceber o quanto desses problemas abordados precisam ser discutidos. Dentre todos os cartazes pregados apenas o que lutava contra o preconceito com homossexuais foi rasgado. Isso evidencia que o problema é serio, não são palavras só ditas por dizer e sim um problema real!

Outros cartazes pregados foram sobre os problemas ecológicos da região, sobre os danos causados pela apropriação de terrenos nas praias, a entrada de empresas estrangeiras que não buscaram consultar o melhor da comunidade e etc.

No segundo dia foi o dia da minha oficina (Projeto de vida com Design Thinking), eu já imaginava que fossemos receber uma boa quantidade de alunos ( o nome da oficina me parecia muito auto ajuda e eu não botava muita fé), mas o que recebemos foi muito mais do que o número esperado de pessoas e isso me fez pensar na preocupação com seus futuros por parte daqueles jovens, mesmo para aqueles que disseram não ter perspectiva de nada. Estar ali foi uma forma de mostrar que havia um minimo de curiosidade e interesse sobre o que fariam após a escola.

Como dinâmica na oficina pedimos para que cada aluno falasse sobre seus sonhos e planos de vida, alguns se mostraram muitos seguros nas ideias, alguns falaram que queriam algumas coisas mas percebemos quase que de automático que eram respostas da boca pra fora, talvez incutidas por pressões sociais e familiares ou por ser um conceito já cultural do que é bom para os indivíduos. Outros alunos não conseguiram se decidir ou não tinham a menor ideia, e alguns até mesmo estavam decididos a nunca mais encostar num livro na vida.

Fica a reflexão para tentar entender de onde surge toda a aversão à escola. Considerando o conceito da psicologia de que não existe o não comportamento, podemos nos perguntar, quando esses alunos não querem ir à escola, o que de fato eles querem fazer?  O que apetece esses indivíduos? Para onde a sede de conhecimento e a curiosidade envia suas atenções?

Acho que o ponto mais marcante da oficina foi lidar com os alunos que admitiram preferir se envolver com o crime. Foi muito difícil ter de raciocinar em questões de segundos qual a resposta mais apropriada para se falar e se debater o tema, até porque gerava todo um alvoroço por parte de outros alunos. Como se debate criminalidade na escola ? Eu cresci estudando em escola particular, onde esse tema era uma situação distante, ter alguém ali do seu lado falando que quer se envolver com o crime, que quer se traficante e pistoleiro, é um choque de realidade e te faz abrir os olhos de verdade para a realidade daquele povo, daqueles meninos em especial.

Tentei conversar depois com esses rapazes, deu pra ver que muita coisa era influencia de amigos que já estavam nessa vida, era por motivos de não se acharem capazes de fazer qualquer outra função, por medo de serem julgados, por vontade de crescer rápido e nem mesmo pensavam nas consequências das ações. 

Ao falar do design thinking ficou obvio que eles não pensavam nas etapas necessárias para se alcançar os objetivos, o que se via era apenas o resultado final: quero ser algo, vou ser algo, não se refletia sobre o processo e nem as consequências globais dessas ações.

Enfim, deu para ver que alguns se sentiram mais tocados pela oficina, falaram que levariam seus cartazes para casa e pregariam na parede do quarto para verem todos os dias e não esquecerem dos seus sonhos, outros deixaram a experiencia passar. Não acreditei que fosse capaz de tocar todos os alunos, mas ter afetados alguns poucos já foi suficientemente gratificante, porque o objetivo era passar alguma mensagem e se alguém recebeu posso dizer que o objetivo já foi concluído.

Depois da oficina nos reunimos para darmos algumas opiniões sobre a experiencia que tivemos, pegamos nosso ônibus para almoçar e por fim voltar para Fortaleza

Infelizmente outros passeios já programados foram cancelados. 
Entrei na van, tirei um belo de um cochilo, ouvi podcast e voltei para minha rotina usual. 
Não da para escrever tudo o que passei, que vi, senti e ouvi aqui. Apesar de serem só dois dias, são experiencias que dariam um livro tranquilamente se escritas. De resto ficam as ideias para conversas no futuro e a vivencia. 




Comentários